SÓCIOS
Setembro 2024

ARTIGOS DO MÊS
Neste artigo de opinião publicado em fevereiro de 2022 na Revista Portuguesa de Cirurgia a Professora Doutora Marília Cravo, eminente gastroenterologista, faz uma revisão do conceito de prehabilitação, dos resultados dos programas de prehabilitação mundialmente mais conhecidos e, mais importantemente, questiona:  estamos preparados para começar?

A doença oncológica é 2ª causa de mortalidade nos países ocidentais. A população ocidental enfrenta um significativo processo de envelhecimento e, por esse motivo, cada vez mais doentes idosos com cancro são propostos para terapias agressivas envolvendo frequentemente quimioterapia neoadjuvante e cirurgia oncológica major.
Por força da idade e da doença oncológica, esses doentes apresentam no momento da intervenção cirúrgica quadros de malnutrição, sarcopenia e fragilidade, para além de inúmeras comorbilidades, muitas vezes não otimizadas.

O conceito ERAS (enhanced recovery after sugery) conceptualizado por Henrik Kehlet em 1997 originou programas ERAS em muitos Serviços cirúrgicos espalhados pelo mundo e também por Portugal, mas sobretudo, modificou e melhorou a abordagem ao nível dos cuidados pós-operatórios evitando o jejum prolongado, agilizando o levante e a mobilidade pós-operatória e retirando tubos e drenos, tradicionalmente usados pelos cirurgiões baseados em tradições e crenças e sem suporte científico que os justificasse.
Os programas ERAS, contudo, não são suficientes quando se equaciona o tratamento oncológico de um doente idoso, frágil, malnutrido e com comorbilidades. É necessária uma estratégia de avaliação do risco cirúrgico e, de seguida, a implementação de estratégias mitigadoras desse mesmo risco a começar no pré-operatório, muitas vezes 4 a 6 semanas antes.

Essas estratégias envolvem a modificação do estilo de vida com abstenção tabágica, alcoólica, e redução do peso, a otimização das drogas e comorbilidades, o reforço nutricional especializado e programas de reabilitação física e fisioterapia. É esse o caminho que a prehabilitação nos aponta.
O benefício dos programas de prehabilitação em doentes cirúrgicos de alto risco está largamente demonstrado como diminuindo a taxa de complicações e mortalidade pós-operatória e melhorando a sobrevida global.
Este artigo fornece-nos a evidência científica e desafia-nos a começar.


Ana Azevedo
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ECCO Guidelines on Therapeutics in Crohn’s Disease: Medical Treatment
 
Neste mês damos destaque às últimas recomendações da ECCO, publicadas em junho no Journal of Crohn´s and Colitis, e que fazem uma abordagem abrangente e sistemática da terapêutica médica atualmente preconizada no tratamento da doença de Crohn.
Reforçam a importância da discussão clínica em equipa multidisciplinar sendo possível, com as opções disponíveis de terapêuticas biológica, pequenas moléculas e nutricional, um tratamento cada vez mais individualizado. Existem vários fatores que podem influenciar a escolha terapêutica, nomeadamente doença perianal, espondilartropatia periférica ou axial, gravidez ou idade avançada. O artigo dispõe de um esquema orientador para a escolha do tratamento mais adequado de acordo com eficácia e segurança nas diversas situações em particular.

Do consenso, realçamos:
- a importância da associação da azatioprina ao infliximab por um período mínimo de 6-12 meses com o intuito de melhorar a eficácia e reduzir a imunogenicidade; não existe evidência suficiente para recomendar a monitorização proativa dos níveis séricos dos fármacos anti-TNF;
- o ustekinumab é tão efetivo quanto o adalimumab, tanto na indução como na manutenção da remissão da doença de Crohn moderada a grave;
- o risankizumab também é efetivo na indução e manutenção da remissão da doença de Crohn e, brevemente terá comparticipação em Portugal;
- o vedolizumab é outro biológico, com bom perfil de segurança, que pode ser usado na doença de Crohn de gravidade moderada a grave, cuja posologia poderá diferir da colite ulcerosa, com eventual administração suplementar às 10 semanas nos doentes não respondedores à sexta semana;
- o upadacitinib é o único inibidor JAK recomendado para a doença de Crohn moderada a grave;
- nos doentes com doença de Crohn de gravidade ligeira a moderada, motivados para aderir a terapêutica nutricional e que preferem evitar corticoides, podem recorrer a nutrição entérica exclusiva para indução da remissão da doença; têm sido estudadas, inclusive, várias dietas para manutenção da remissão, sendo a mais estudada a “Crohn´s Disease Exclusion Diet”.

Estamos certos que, com os múltiplos ensaios a decorrer, a breve trecho outros fármacos serão adicionados ao arsenal terapêutico da doença de Crohn, sendo esta uma patologia cada vez mais aliciante de se tratar.
 
Ana Lúcia Sousa
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