SÓCIOS
Outubro 2024

ARTIGOS DO MÊS
Apesar dos constantes avanços na terapêutica do cancro do recto, e do surgimento da estratégia do "Watch and Wait" nos pacientes com resposta clinica completa à terapêutica neoadjuvante, a vigilância clinica e radiológica permanece subóptima. 

O DNA circulante tumoral (ctDNA) tem sido progressivamente utilizado como um biomarcador não invasivo para a monitorização da carga tumoral., e pode ser detectada na presença de cancro primário, recorrente ou metastático. 
 Nesta meta-análise foram incluídos 14 estudos coorte com a inclusão de 1022 pacientes. 
Trata-se da maior revisão na literatura sobre o papel do ctDNA na abordagem do cancro do recto localmente avançado. 

Um dos desafios encontrados actualmente no tratamento do cancro do recto, encontra-se na (não)  correlação entre a resposta clinica completa e a resposta patológica completa após terapêutica neoadjuvante. Esta revisão aponta para que os doentes que possuem boa resposta aos tratamentos apresentam maior probabilidade de apresentar valores pós-operatórios negativos de ctDNA; por outro lado, doentes com valores pós-operatórios positivos de ctDNA possuem risco elevado de desenvolver doença recorrente. 
O ctDNA surge como uma ferramenta promissora na estratégia de tratamento de cancro do recto localmente avançado e na vigilância , podendo identificar os pacientes de alto risco, promover o desenvolvimento de estratégias individualizadas e poder melhorar os resultados a longo prazo.
 
Cumprimentos

Jorge Fernandes
Assistente Graduado Cirurgia Geral
Funchal
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O'Sullivan T, Cronin O, van Hattem WA, Mandarino FV, Gauci JL, Kerrison C, Whitfield A, Gupta S, Lee E, Williams SJ, Burgess N, Bourke MJ. Cold versus hot snare endoscopic mucosal resection for large (≥15 mm) flat non-pedunculated colorectal polyps: a randomised controlled trial. Gut. 2024 Oct 7;73(11):1823-1830. doi: 10.1136/gutjnl-2024-332807. PMID: 38964854.
 
A abordagem de lesões colorretais por mucosectomia tem sido questionada pela superior taxa de recidiva, difícil avaliação histológica da peça de resseção e necessidade de múltiplas reavaliações endoscópicas quando comparada à disseção endoscópica da submucosa. No entanto, por permitir uma menor duração do procedimento e se tratar de uma intervenção com menores taxas de complicações, a sua aplicação é legítima em lesões colorretais cuja morfologia e padrão de superfície permitam estimar uma baixa probabilidade de invasão profunda da submucosa.

O interesse em técnicas de mucosectomia sem passagem de corrente tem aumentado, por se associar a uma menor taxa de eventos adversos, sem aparentemente ter impacto negativo na qualidade da resseção endoscópica.
Este estudo clínico randomizado, publicado na revista Gut, comparou a excisão de pólipos colorretais adenomatosos não pediculados com dimensão superior a 15mm por mucosectomia endoscópica com ansa diatérmica versus ansa a frio. Em ambos os grupos, foi realizada termoablação das margens após a resseção. O outcome primário estabelecido foi a taxa de recidiva na reavaliação endoscópica aos 6 meses após o procedimento índex. Como outcomes secundários, os autores definiram a taxa de sucesso técnico e a taxa de complicações associadas ao procedimento.

A taxa de sucesso técnico, definida como a ausência de lesão por visão endoscópica no final da intervenção, foi semelhante nos dois grupos. As perfurações tardias foram observadas apenas no grupo da ansa diatérmica, sendo que este grupo foi também associado a maior taxa de hemorragia pós procedimento. Em contrapartida, apresentou uma taxa de recidiva significativamente inferior na reavaliação endoscópica aos 6 meses.
Perante estes resultados, os autores concluíram que a realização de mucosectomia a frio de pólipos colorretais adenomatosos não pediculados com dimensão superior a 15mm, apesar de se tratar de um procedimento com menor risco de eventos adversos, apresenta uma maior taxa de recidiva, sendo, atualmente, uma limitação desta técnica.
 
Henrique Costa Coelho, Ana Maria Oliveira
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